A História da Tatuagem no Brasil: Primeiros Registros:
As tatuagens fazem parte da humanidade há milênios, atravessando culturas, crenças e gerações. No Brasil, o hábito de marcar o corpo com tintas tem raízes muito mais profundas do que muitos imaginam — e sua trajetória é cheia de curiosidades que revelam transformações sociais, culturais e estéticas.
Primeiros registros no Brasil:
Muito antes da tatuagem se tornar uma forma de expressão artística popularizada nos estúdios urbanos, ela já era praticada por povos indígenas antes da chegada dos colonizadores. Esses grupos utilizavam pigmentos naturais e técnicas rudimentares para marcar o corpo com símbolos ligados à identidade, espiritualidade, rituais de passagem, guerra e pertencimento. Para esses povos, tatuar o corpo era também uma forma de comunicação visual com o mundo espiritual e com a própria comunidade.
Alguns dos primeiros instrumentos indígenas para tatuagem incluíam espinhos de peixe e pigmentos feitos com carvão vegetal.
Já no século 19, durante o período das Grandes Navegações, navegadores adotaram a prática de se tatuar para expressar sentimentos, religião ou pertencimento a grupos/culturas.
A tatuagem moderna e seu renascimento:
Por muito tempo, a tatuagem esteve associada a marinheiros, presidiários e marginais — reflexo de uma mentalidade importada do Ocidente e reforçada por preconceitos sociais. Era feita em qualquer lugar, não existiam locais destinados a tatuar-se.
Foi apenas a partir dos anos 1970 que a tatuagem começou a ser reconhecida como uma forma legítima de arte corporal e identidade.
Um marco importante nessa transição foi o trabalho de um dinamarquês que chegou ao porto de Santos, mais conhecido como Lucky Tattoo, considerado um dos pioneiros da tatuagem profissional no Brasil. Em 1959, ele abriu o primeiro estúdio de tatuagem em São Paulo, que também funcionava como barbearia. Lucky tatuava principalmente marinheiros estrangeiros que passavam pelo porto de Santos, mas com o tempo, sua arte começou a atrair o público brasileiro.
E sua influência gerou dois históricos tatuadores:
Antônio Stoppa e Inácio da Glória.
Stoppa, nascido em 1950, fez sua primeira tatuagem aos 28 anos com Lucky e depois disso de tanto ir ao Studio levar seus amigos para tatuar, aprendeu apenas observando, fez sua própria máquina com um motor de rádio toca-fitas e começou tatuar em sua oficina.
Bidy Tattoo com Stoppa e 2011, no forte Orange, Ilha de Itamaracá
Depois com alta demanda abriu seu estúdio em Santo André SP e outro em Brasília, e na década de 80 se mudou para Florianópolis, onde seguiu seu legado de tatuagem e motociclismo até 2021.
Inácio, nasceu em 1952 e foi aprendiz de Lucky em uma de suas idas a Santos, e acabou por firmar seu Studio em Brasília por mais de 20 anos. Teve também um Studio muito famoso no Guarujá: o Ilha Nativa, consolidando a região como história da tatuagem brasileira. E com sua luta para que a tatuagem fosse considerada arte e tratada com respeito, foi até 2019 incessante. A quem devemos muito da história atual.
Apesar da proibição em alguns momentos históricos, como durante regimes autoritários, a tatuagem sempre resistiu — muitas vezes como símbolo de rebeldia ou afirmação cultural.
Hoje, o Brasil é o país com maior número de estúdios de tatuagem da América Latina (mais de 22 mil estúdios) e muitos tatuadores brasileiros são reconhecidos internacionalmente.
Expressão, arte e identidade:
Atualmente, a tatuagem no Brasil é reconhecida como uma forma legítima de arte e expressão pessoal. Estilos diversos como o realismo, pontilhismo, aquarela, blackwork e neotradicional convivem lado a lado em um cenário vibrante e criativo. Os estúdios, como o nosso, são espaços seguros, regulamentados e dedicados à personalização da arte corporal de forma ética e profissional.
Seja por estética, memória, espiritualidade ou pura paixão pela arte, cada tatuagem carrega uma história. E conhecer as origens desse hábito milenar só reforça a importância e a beleza de marcar a pele com significado e escolha pessoal.
*Curiosidades que poucos sabem:
O nome “tatuagem” vem do termo taitiano ‘tatau’, os polinésios usavam essa expressão para descrever o processo de marcar a pele com tinta.
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